Um guia de Paris é inviável porque ficaria sempre aquém das expectativas; há tanto para ver e fazer que é impossível simplificá-lo em poucas páginas.
É por isso que me vou focar em locais gourmet, artigos para a casa e antiguidades, programas com crianças e algumas dicas que me ajudaram e espero que também vos possam ajudar.
O Álvaro e eu vivemos nesta cidade há 13 anos, mas voltamos todos os anos umas quantas vezes e nunca deixamos de nos surpreender. Desta vez, voltámos um ano depois devido à pandemia e foi muito especial, pois fomos com crianças e gostámos muito.
Creio que a melhor forma de dividir este guia é por zonas ou distritos, que em Paris são conhecidos como arrondissements:
• O meu bairro favorito é Saint Germain de Pres (6ème arrondissement). As suas lojas, antiquários, galerias, restaurantes, parques e zonas gourmet são fantásticos, mas é um dos bairros mais caros.
Na Place Saint Germain encontram-se os restaurantes mais clássicos e famosos (e, portanto, caros) de Paris, sendo: Café de Flore, Les Deux Magots e Brasserie Lipp (neste último cruzei-me uma vez com o Jack Nicolson), famoso pelo seu chucrute.
Agora, com a COVID, Les Deux Magots criou uma esplanada muito agradável na praça. La Societé também fez o mesmo. Este não é assim tão antigo, mas é um dos restaurantes do Hotel Costes, mítico em Paris, por ter os restaurantes mais modernos, com empregados de mesa que são modelos e por ser sempre o «place to be». Adoro os nems e o pato estaladiço do Hotel Costes e L`avenue na Avenue Montaigne (a rua mais luxuosa de Paris, com as melhores lojas) e come-se bem.
Ao virar da esquina, encontramos Le relais de l'entrecot, perfeito para ir com crianças. Tem um menu único de entrecosto em filetes das suas próprias vacas, com o seu molho secreto único (com uma grande percentagem de manteiga), com batatas fritas que são um vício e uma salada verde com um vinagrete muito francês com um pouco de mostarda picante e nozes.
Seguindo a rua para cima, podem tomar chá ou pequeno-almoço no Ladurée, que está decorado de uma forma muito especial e merece uma visita. É um dos sítios com os melhores macarrons de Paris.
Outro que adoro para um lanche onde se podem sentir como um parisiense chique, é o Angelina, mas fica noutra zona (226 Rue de Rivoli, 75001) (1er arrondissement). Adoro o chocolate quente — uma boa recompensa depois de percorrer o Jardin des Tuileries.
Outra pastelaria a conhecer é a Pierre Hermé. É um espaço pequenino, mas parece que vendem joias em vez de bolos. Vale a pena conhecê-la, tal como a do famoso pasteleiro Cedric Grolect (1er arrondissement).
Voltando à nossa rota por Saint Germain, se virarem para a Rue de Buci, encontram uma pequena praça bonita ao longo do caminho, onde fica Flamant, uma loja de decoração que também tem uma florista muito bonita e, em frente, uma loja de especiarias muito cuidada. Esta zona é dedicada às antiguidades, aos tecidos e à decoração. Encontram todos os têxteis espetaculares nestas ruas.
Perto dali, a Rue de Buci é sempre uma zona divertida a qualquer hora do dia, cheia de pequenos restaurantes, bares e padarias. Acho que o da esquina, Maison Sauvage, é muito especial. Pode parecer um pouco decadente, mas a comida é boa e os coquetéis são deliciosos; é um lugar muito divertido para ir. Nesta rua, encontram também pequenas lojas gourmet.
Um pouco mais longe, onde ficam os cinemas Odeón (íamos lá quando morávamos lá), fica o Hotel Le Relais Saint Germain, com os seus dois restaurantes de tapas ao lado que têm de experimentar, chamado Le Comptoir.
Para jantar, gosto de ir ao Aux Prés. Ao lado, abriram um japonês dos mesmos donos; tudo na mesma zona.
Com crianças, não podem deixar de ir ao Parque de Luxemburgo; eles adoram alugar um barquinho para brincar no lago (guiam-no com um pau). Também podem dar um passeio de pónei, jogar ténis ou entrar na zona dos baloiços (mediante pagamento) que está muito bem pensada, com uma tirolesa muito divertida para eles (há também um Café Angelina no parque, mas nada como o que recomendei no início). Mesmo em frente, há uma pastelaria com uma das melhores baguetes de Paris chamada La Parisienne. Tem também umas sobremesas muito boas (por outro lado, os bolos são duros como uma pedra). Ao lado, há uma loja, Marin Montagut, com artigos para a casa artesanais e pintados à mão muito curiosa, que vale a pena visitar. O único problema é que é muito cara.
• Uma visita obrigatória é a Le Bon Marché (7ème arrondissement), um centro comercial cuidado até ao mais ínfimo pormenor, tem de tudo e tudo à volta do luxo — vale a pena ir só para o ver (tem sempre montras lindas). Mas claro, o meu grande imprescindível é o «supermercado» no edifício ao lado, que é La Grande Epicerie de Paris, que eu gostaria de abrir em Madrid. Todos os produtos selecionados são de excelente qualidade e tudo está muito bem cuidado, é enorme e encontra-se tudo o que se pode precisar, mas a preços muito mais caros do que o mercado normal.
Um bom programa é comer uma tosta ou uma tábua de enchidos e queijo no Bar de La Croix Rouge, perto de Le Bon Marché.
Outra zona gourmet que podem visitar é Beaupassage, onde acaba de abrir Coya, um famoso restaurante asiático que há em diferentes cidades do mundo. Come-se muito bem, mas também é muito caro. Há uma pastelaria boa chamada Thierry Marx Bakery, Pierre Hermé (um dos melhores pasteleiros do mundo), um talho chamado Polmard com um restaurante que tem muito bom ar (nunca entrei), e uma das minhas lojas de queijo favoritas, Barthélémy.
Perto desta zona fica o espaço Deyrolle, que é um espetáculo e as crianças adoram. É só animais empalhados, é como ir a um museu. Falando de museus, para as crianças, têm de ir ao Museu Nacional de História Natural de França que fica no Jardin des Plantes (5ème arrondissement), onde também há um pequeno zoológico (não fica nesta zona, mas vale a penar visitar).
Ao lado desta loja temos L'Atelier de Joël Robuchon (não é para crianças). É muito caro, mas a comida é ótima. Joel foi um dos maiores chefs de cozinha do mundo (faleceu recentemente e é conhecido, entre outras coisas, pelo melhor puré de batata do mundo). Ganhou muitas estrelas (restaurantes diferentes), mas criou este conceito de ateliê onde se comem pequenos pratos com um ambiente mais informal. Adoro comer no bar a vê-los preparar todos os pratos (cozinha aberta). Antes do último exame, fomos ao Le Cordon Bleu, o Álvaro e eu, ver se me inspirava para o dia seguinte e para festejar quase o fim do curso.
Para ver a Paris turística com crianças, achei muito divertido fazer a visita guiada de tuc tuc, pois vê-se tudo confortavelmente e depois vai-se ao que nos apetece, mas não se deixa nada por visitar. La Tour Eiffel é visita obrigatória e é muito agradável fazer um «piquenique» no relvado em frente, nos campos de Marte, comprar algo num dos espaços gourmet de que vos falo e comer lá. Se quiserem uma experiência gourmet completa, o jantar no Jules Verne é imperdível com a vista de Paris. Só lá estive uma vez e, na mesa ao lado, ajoelharam-se e sacaram do anel! De facto, se há um lugar romântico para fazer o pedido de casamento, é este. Eheheh
Em frente, temos Trocadero com o museu «Palais de Tokio», onde encontramos o restaurante Bambini Italiano que é muito bom para ir com crianças. Outro mais luxuoso, com uma esplanada com vistas espetaculares e muito na moda é o Le Girafe.
Outro programa turístico divertido com crianças é o passeio de barco (bateau mouche), um forma também de descansar enquanto se faz turismo. A propósito, recomendo levar um «carrinho de bebé» se tiverem menos de 6 anos, porque, embora não o usem na vossa cidade, em Paris não se pode parar de andar e eles ficam cansados.
Em Paris, aos sábados, há muitas feiras itinerantes em todos os bairros, com bancas de legumes, queijos, enchidos que valem bem a pena visitar. Se precisarem de um supermercado, gosto do Monoprix; que também tem roupa básica para crianças a um preço muito bom e de boa qualidade (esta recomendação parece estranha, mas é assim).
Podia continuar por mais duas páginas sobre esta zona, porque é o bairro onde vivemos, mas acho que estes são os meus pontos favoritos.
• Outro dos meus bairros favoritos é, sem dúvida, Le Marais (3éme e 4éme arrondissements), o bairro judeu. É por isso que algumas lojas fecham ao sábado (Sabbath), mas aos domingos está tudo aberto e sempre muito animado.
Abriu recentemente Eatataly, uma superloja italiana com supermercado de todos os produtos italianos e também bancas, onde se pode comer ou levar comida. É fixe, mas nada que ver com o de Nova Iorque ou de Itália. Ao lado, abriu também a loja Antrophology que é sempre divertida e onde temos roupa e coisas para a casa.
Le Marais tem um ambiente mais jovem, divertido e alternativo que o bairro anterior. É possível visitar o Centre Pompidou, um museu de arte contemporânea construído num edifício muito inovador da década de 1970.
Para comer, adoro ir ao Miznon; a couve-flor assada ou as «sandes» recheadas são uma delícia. Para lanchar um crepe doce ou uma salada, ou mesmo fazer uma refeição, o Café Breizh. Outro sítio onde é divertido comer, estilo street food, é Le Marché des Enfant Rouge.
Chez Julien é um dos meus restaurantes favoritos de Paris: tem uma decoração clássica, com um teto antigo espantoso, contrastando depois com música animada. Além disso, a comida é muito boa. Recomendo ir à noite, é mais divertido.
• Perto de Le Marais, fica Etienne Marcel (2ème arrondissement), um bairro muito menos conhecido, mas com uma rua cheira de restaurantes e espaços gourmet que me agradam muitíssimo. Há também uma loja de artigos em segunda mão, Kiliwatch, que vale a pena visitar por curiosidade, e talvez encontrem algo que lhes agrade. Há uma pequena loja de especiarias chamada Chez Bruno que eu adoro. Há também algumas grandes lojas para profissionais de restauração com milhares de aparelhos de cozinha, utensílios de cozinha, molhos e ingredientes onde eu passaria horas, mas compreendo que é para um público mais profissional, embora todas as pessoas possam comprar. Se gostarem de foie gras, há um pequeno restaurante com uma loja de foie gras onde se come muito bem: Le Comptoir de la Gastronomie.
• Outro programa obrigatório ao fim de semana é ir à feira da ladra: Marché aux Puces Porte Cligniancurt (18ème arrondissement). Se forem de metro, ficarão surpreendidos com o facto de haver um mercadinho gigante com algumas bancas «maltrapilhas» com pessoas a regatear. NÃO é a feira da ladra! Têm de continuar a andar até à Rue de Rosiers e encontrarão pequenas lojas e passagens com lojas de antiguidades. No final de tudo isto, há um restaurante que é bom se forem passear pela feira da ladra chamado Ma Cocotte (não é o sítio ideal para ir, mas se estiver lá pode comer muito bem, um entrecosto e um leite-creme).
Perto fica Montmartre. A verdade é que já não ia lá há muito tempo porque é muito turístico, mas desta vez fui com os miúdos e eles adoraram. Podem apanhar o funicular para poupar as mil escadas para chegar à impressionante Basilique du Sacré-Cœur. Há também um pequeno comboio que os leva a dar uma volta e não pode perder a praça dos pintores, onde encontrarão muitos pintores com os seus cavaletes e telas prontos a pintar-lhe um retrato ou uma caricatura, todos com estilos diferentes. Não recomendo comer nesta zona, pois é tudo muito turístico; mas se quiserem comer um crepe, de certeza que são bons.
• Na zona da Ópera (9ème arrondissement) fica o novo restaurante COCO, cujo interior e esplanada são muito bonitos.
Perto está o «Lafayette». Há dois centros comerciais em Paris, o Lafayette e o Printemps, ambos têm uma área gourmet muito fixe. No Lafayette é no sótão com restaurantes com um bar onde se pode comer coisas diferentes, um deles tem uma esplanada com vistas espetaculares onde é divertido tomar um vinho ao pôr do sol.
• La Place du Madeleine (8ème arrondissement), além de ser uma praça muito bonita (este programa já não é tanto para crianças) é uma praça muito gastronómica. Tem a loja Baccarat com o seu restaurante, depois restaurantes especializados (com lojas) em trufas, caviar e salmão, bem como as lojas gourmet mais famosas de Paris, Hediard e Fauchon, assim como a loja das famosas mostardas, Maille.
• Outros dos meus restaurantes preferidos nesta cidade, que ficam em bairros diferentes dos mencionados acima, são:
Para mim, o melhor restaurante chinês em que já estive, tem uma estrela Michelin e fica num hotel impressionante, vale a pena fazer uma visita guiada para o ver. O hotel chama-se Shangri-la Hotel (16ème arrondissement). Se lá forem, têm de pedir o pato lacado, fazem-no com a pele superfina e estaladiça, e a segunda dose de pato é como pato picado com legumes deliciosos (normalmente nos chineses, a segunda dose de pato é-lhe dada numa sopa de pato ou algo semelhante, de que normalmente não gosto), mas tem de pedir com cuidado para não ser demasiado caro, por exemplo, o vinho é muito caro, por isso tem de «controlar-se» um pouco. Não pedi sobremesa porque não sou muito fã das sobremesas chinesas.
Se quiserem comprar o melhor croissant do mundo, têm de ir à Du pain et des idees (10ème arrondissement). É incrível, nunca provei nada assim! Mas é muito longe e não fica à mão.
Se quiserem ir a um sítio divertido, onde comer um belo hambúrguer ou um estufado, recomendo FERDI (1er arrondissement): um pequeno bistrô com influência espanhola muito autêntico.
O chef Gregory Marchand «tomou conta» da rua Rue du Nil, visto ter 3 estabelecimentos. Chama-se Frenchie (2ème arrondissement), em memória do que Jamie Oliver lhe chamava quando trabalhava para ele nas cozinhas de fiftheen em Londres. Tem um restaurante que, segundo me disseram, é o melhor, mas não abre aos fins de semana e está sempre cheio, pelo que não pudemos ir lá. Mas o que ficámos a conhecer foi o seu novo conceito de fast food, com um espaço microscópico, na mesma rua, com mesas altas e baixas. Pode-se comer no local ou levar umas sandes e cachorros-quentes maravilhosos. Provei a de lagosta e estava maravilhoso. Havia outra de carne com beterraba também muito saborosa. Por sua vez, a sobremesa desiludiu-me, pois a base da tarte de limão estava crua. Mas é um sítio divertido e muito recomendável para comer rápido e bem. Entre estes dois estilos tão opostos, o chef criou também outro local intermédio que é o Bar à vins, onde não estive, mas a carta tem muito bom ar. Na minha próxima visita, espero conhecer o restaurante Frenchie.
• Uma grande descoberta nesta viagem (graças a uma dica que me deram no Instagram) a aplicação de caça FlashInvaders. Consiste em procurar nas ruas, com o telemóvel, desenhos feitos de azulejos que se digitalizam e nos dão pontos, deixando as crianças supermotivadas para continuar a andar e a visitar zonas à procura dos desenhos.
• Agora estão muito na moda todos os restaurantes da página Web www.paris-society.com, mas há que reservar com antecedência, pois são superprocurados.
• Paris está cheia de museus e programas culturais. Não pode deixar de conhecer o Museu do Louvre (1er arrondissement) que é um espetáculo, e depois visitar os jardins do Palácio Real (tem lojinhas) e um dar um passeio por Tullerías (até mesmo numa bicicleta alugada).
O meu museu favorito é o Musée d'Orsay (7ème arrondissement). Adoro o impressionismo, o café/restaurante fica mesmo ao lado do relógio gigante, o que é muito curioso.
Outra joia pouco conhecida é o Museu Rodin (7ème arrondissement), que é uma maravilha, especialmente passear pelo Jardim de Esculturas muito tranquilo.
Outros programas são a visita à Fundación Loui Vuitton (16ème arrondissement). Sempre que forem, espreitem as exposições que há no Grand e Petite Palais; são sempre apetecíveis. Também podem visitar a Fundación Cartier (14ème arrondissement).
Não se podem esquecer do Notre Dame (4ème arrondissement) — é um espetáculo. Não imaginam o triste que fiquei quando o vi arder, mas está muito melhor. Com o Arco do Triunfo (8ème arrondissement) e os Inválidos (7ème arrondissement), são monumentos obrigatórios na primeira vez que se vai a Paris.
Se forem mais dias, um programa muito divertido para fazer com crianças (além da Eurodisney, claro) é ir a Versalhes (15ème arrondissement). O palácio é impressionante, mas tenho de admitir que o que mais gostei, para além dos incríveis jardins, foi a aldeia da rainha Maria Antonieta.
Bem, acho que este guia está a alargar-se um pouco, mas como disse no início, Paris é tão excitante que não pode ser resumida num guia. Estas são os meus pontos-base, mas há mil outros programas e opções.
Para não vos «saturar», irei atualizando-o para poderem continuar a acrescentar itinerários!
Espero que tenham gostado das minhas dicas e que aproveitem a vossa visita a esta cidade maravilhosa.
Última atualização: janeiro de 2024
Na nossa última viagem a Paris, descobri o restaurante «Shabour», um restaurante israelita onde se come no bar à volta da cozinha. É um menu de degustação que podem escolher entre um por cerca de 80 € ou outro por 120 €, ambos muito elaborados e deliciosos. A comida é um pouco diferente daquilo a que estamos habituados, mas surpreender-vos-á e vão gostar. O atendimento também foi maravilhoso.
Este grupo tem outros restaurantes em Paris, todos muito recomendáveis, e são normalmente muito divertidos e a comida é muito boa. Um deles é vegetariano.
Também conheci outro restaurante do grupo «Paris Society». Todos os restaurantes deste grupo estão muito na moda em Paris, muito bem decorados e divertidos.
Desta vez era marroquino, e gostámos muito. O único senão é que, na minha opinião, a localização é um pouco longe e não vale a pena a viagem, especialmente se estiver na cidade por pouco tempo.
Outro de que o Álvaro e eu gostamos muito, situado em Saint Germain, perto da zona de Odeón (os cinemas), é «Le Comptoir Du Relais». É um restaurante muito pequeno, com um bar onde as pessoas ficam um pouco apertadas, mas pode comer-se tapas muito saborosas, e têm uma grande variedade de vinhos.