Sempre quis visitar o Peru para conhecer a gastronomia, os ingredientes e a cultura. Passei uma semana muito, muito intensa onde tentei espremer cada minuto e aprender e experimentar o máximo possível. Para isso, contei com a superorganização da agência Utopica e com a ajuda da Promperu, que trataram de tudo (como sabem ando sempre a mil e não tinha tempo para organizar nada, por isso foi um verdadeiro luxo que tudo tenha sido planeado ao pormenor, muito melhor do que eu o teria feito, com experiências únicas e as melhores recomendações e planos possíveis).
Conhecemos Lima, Valle Sagrado e Cusco, por isso terei de voltar para visitar muitas outras zonas, como o Lago Titicaca e algumas das suas ilhas próximas, Arequipa, Nazca… e muitos outros sítios.
Começámos por Lima que é a capital, a única no sul da América que está na costa. Logo, o peixe/marisco é fresquíssimo e delicioso!
O hotel onde ficámos é ideal, chama-se Atemporal. É como uma casinha (fez-me lembrar um pouco as casas de Biarritz) muito bem cuidada, com um alpendre onde se toma o pequeno-almoço rodeado de plantas muito agradáveis. Cuidam muito bem de nós e tem todo o tipo de pormenores.
Hotel Atemporal
O lado gastronómico do Peru é muito interessante, pois tem muita influência de outras culturas que migraram para o Peru, como os japoneses (17 000 japoneses viviam no Peru em 1923), que fizeram uma união de ambas as culturas, fundindo técnicas japonesas com produtos locais como a famosa malagueta, coentros e limão (a nossa lima), dando origem à conhecida cozinha Nikkei.
Maido com o Central (também peruano, mas ao qual não tive tempo de ir, embora tenhamos visitado o seu restaurante no Vale Sagrado, que é fantástico) são os melhores de toda a América do Sul e o 8.º do mundo. Se lá forem, não percam nenhum prato com o atum-rabilho (barriga de atum que curiosamente trazem de Espanha), a tempura de bacalhau (que pescam a 1500 m de profundidade), o tiradito e o sashimi de peixe do dia.
Outra grande influência na cozinha peruana é a cozinha chinesa, que deu origem à cozinha chifa (assim chamada porque os chineses comiam muito arroz quando chegaram e chamavam-lhe em chinês uma palavra que lhes soava a «chifa», e assim ficou).
Se falarmos da cozinha peruana, temos de fazer uma menção honrosa ao chefe Gastón Acurio, o grande promotor e quem levou a comida peruana ao outro nível, tornando-a muito famosa. Foi o grande promotor da cozinha peruana, com outros chefes, nos anos 90 (criaram algo semelhante em Madrid, a fusão chamada Congresso Mundial de Turismo Gastronómico). O seu primeiro restaurante foi o Astrid y Gastón (Astrid é a sua mulher) e, atualmente, tem mais de 40 restaurantes dedicados a diferentes especialidades da comida peruana, em 11 países de todo o mundo.
Restaurante Astrid & Gastón
Outra caraterística fundamental para compreender a cozinha peruana é a sua grande biodiversidade: 84 dos 103 ecossistemas do mundo foram registados.
A nossa viagem gastronómica começou ao conhecer Penélope: chef peruana que teve um restaurante com Gastón Acurio. Desde o início foi como estar com uma amiga de longa data, ela levou-nos à sua peixaria local e depois ao mercado para nos explicar todos os ingredientes que eram novos para nós e para comprar os que precisávamos para cozinhar receitas deliciosas em casa (não percam os posts do Instagram com as receitas). Aprendemos a fazer ceviche de linguado, conchas a la parmesana e sudado de chita. O seu bairro é Barranco, uma zona divertida para passear, cheia de lojas, galerias e restaurantes. Adorámos ir ao Ciclos Café, uma cafetaria de culto do café no rés do chão, na rua, onde têm o seu próprio torrador e moinho de café, e um templo do chocolate gerido pela Amanda no primeiro andar.
Mercado de Lima
Cozinhar com a Chef Penelope
Ao nível de lojas ou concept stores recomendo: Dédalo, NEO Concept Store e Artesanías las Pallas.
Para terminar a noite, recomendo tomar um copo no Hotel B no seu sótão. Deram-nos uma hilariante aula de pisco. Além disso, fica em frente à Embaixada de Espanha, que é um sítio maravilhoso.
Aula de pisco no Hotel B
Outra referência em Lima é o chef Rafael Osterling, cujos dois restaurantes visitámos. O primeiro, com o seu nome, é mais formal, com comida muito boa (as conchas com manteiga e os raviólis de trufa são deliciosos), e o outro é mais cool e informal, chamado Mercado, onde experimentei o ceviche de peixe do dia com um espetacular chicharrón de lulas.
Restaurante Rafael Osterling
Restaurante Mercado
Também provámos dois pratos típicos de Lima que são o sanguche de chicharrón (semelhante a uma sandes de panceta), e o típico torrão doce religioso, que consiste em camadas de biscoito de anis alternadas com uma espécie de caramelo.
Sangucheria
Torrão doce religioso
A próxima paragem foi Valle Sagrado (há que voar para Cusco). E aqui tivemos a melhor experiência de todas: conhecer o restaurante Mil. Fica a 3500 m de altura rodeado por montanhas com uma vista espetacular. A sua filosofia é criar uma cozinha com todos os cultivos da zona, ajudando as comunidades vizinhas. Redescobrindo sabores e culturas perdidos e elevá-los a outro nível. O menu é de 8 pratos e tudo é fantástico. Nada que ver com o que havíamos comido até então, e, ainda por cima, acompanhamos com uma espetacular combinação de vinhos sem álcool. O chef e dono é Virgilio Martínez que, sem dúvida, merece 3 estrelas Michelin, embora não tenha nenhuma.
Restaurante MIL
No Valle Sagrado, ficámos no Tambo del Inka que é o oposto do anterior, é grande, com muito campo à volta, com o seu próprio pomar e o melhor spa da América do Sul. Perto há uma rua com pequenas lojas de cerâmica de onde eu teria levado algumas peças debaixo do braço, mas o Álvaro não me deixou.
No dia seguinte, participámos numa atividade gastronómica muito diferente da de Mil, mas também muito enriquecedora. Foi organizada por Marco e o nosso guia Sergio (ambos uns peritos), e consistia em ir mercado de Calcas.
Mercado de Calcas
Novamente a 3500 metros de altura, Utópica surpreendeu-nos com um plano autêntico muito especial: conhecer uma comunidade andina (que falava quechua, a língua dos incas) para preparar a pachamanca — uma técnica ancestral de cozinhar com pedras quentes no chão cobertas com sementeira, cobertores e, por fim, terra durante 40 minutos até a carne e os legumes serem cozinhados com o efeito do ferro das pedras e o vapor dos cobertores húmidos que as cobriam. Preparámos também os molhos típicas e comemos com eles.
Pachamanca
A visita obrigatória se for ao Peru é visitar o Machu Picchu, que é algo espetacular. De facto, é uma das 7 maravilhas. Há que ir de comboio, visto não haver outra possibilidade. Há quem fique a dormir nas Aguas Calientes, mas acho que é melhor ir de dia como fizemos. No regresso, voltámos no comboio «Inca raíl» que é um luxo de comboio. Preparam um jantar muito bom com coquetéis preparados no bar pelo barman, ao som de um grupo de música ao vivo muito divertido.
Machu Picchu
Comboio «Inca Raíl»
Em Cusco, têm costumes gastronómicos diferentes dos de Lima (muito menos peixe, apenas truta, pelo que encontraram muito ceviche de truta). O seu prato típico em todas as celebrações e no dia de Corpus Christi é o cuy (o nosso porquinho-da-índia), e ao longo das estradas vendem chicharrones, toresmos de porco fritos e «chancho» cozinhados na caixa chinesa — uma espécie de churrasco numa caixa fechada —; tudo acompanhado pela sua chicha, que é a bebida mais famosa feita de milho germinado e fermentado.
Chicharrones
No último dia visitámos a cidade de Cusco, a sua catedral, o Templo do Sol e o bairro dos artistas (o bairro de San Blas). O hotel onde ficámos recomendo-o a 100 %; para mim o melhor de Cusco. Era um antigo convento de freiras de clausura e preservam muito desse tempo, como os tetos ou a capela. Fica por trás da catedral, numa praça onde há algumas lojas muito bonitas. Além disso, Palacio Nazarenas, conta com o melhor restaurante de Cusco: Mauka da chef Pía Montes (mulher do chef Virgilio); com uma decoração muito bonita e muita atenção ao detalhe. A comida é deliciosa e o pequeno-almoço também. Outros restaurantes que experimentámos foram o Cicciolina e o Chicha, mas não estão à altura do primeiro. Se tiverem de escolher apenas um, escolheria claramente o Mauka, embora também tenhamos comido muito bem nos outros dois.
Hotel Palacio Nazarenas Belmond
Catedral de Cusco
Como podem ver, não consegui «espremer» mais desta semana, mas ainda tenho muito para descobrir no Peru, e já estou ansiosa por voltar!
Utópica, já estou a pensar no próximo destino!